quinta-feira, 26 de julho de 2007

Lã, linho e labareda

As mangas das blusas já estão esgarçadas, tortas, de tanto serem puxadas para cobrirem as mãos.
Não compro mais blusas sem bolsos. Nem calças.
Essa noite o termômetro registrou 8 graus e acordei ao meio-dia com as mãos suando dentro das luvas pretas de lã embaixo das cobertas, enroladas uma à outra e, ainda que suando, estavam frias. Estavam tão frias quanto nos últimos seis dias.
Quando não estão cobertas mostram cores pálidas: roxo, branco e rosa. As articulações doem e não consigo mexê-las como antes. Os dedos estralam a qualquer movimento e me sinto incapaz de fazer qualquer coisa minuciosa com toda essa rigidez. Os bordados, tricôs e a cozinha.
Elas amolecem e ficam coradas quando as coloco perto do fogo. Mas parece, ao mesmo tempo, que mil agulhas entram na pele até que os ossos sejam aquecidos. Estão tão desacostumadas ao calor...
Antes que eu não possa mais preparar-lhe o jantar, os doces, os cachecóis e tocar no violão sua musica preferida ou lhe alisar os cabelos. Antes delas esquecerem por completo seu calor, devem voltar a te tocar.
Prometo, elas não estarão frias então.



2 comentários:

Anônimo disse...

Não entendo por que ninguém comentou uma pérola como essa. Será que a simplicidade não pode ser considerada pérola? Jóia rara? Preciosidade, diria? Quase que um diálogo, sem pretensão nenhuma. Fala-se de uma coisa são boba. Apenas um frio nas mãos, que até dói! Mas assim que puder, o primeiro toque vai ser de amor. Haverá coisa mais linda que isso? Elka, vc tem mesmo um dom especial, por conseguir ser tão simples.

Elka Waideman disse...

Gosto da vida assim mesmo.
E consigo ser tão feliz assim...