quarta-feira, 13 de junho de 2007

Acetona

Por não conseguir dizer-lhe, escrevo
(e só tanto por causa disso que tenho escrito)
Escrevo para contar que a minha boca seca
Seca como vidro de acetona aberto
Aberta sem dizer palavra
Palavras que já versei
Inversa aos teus retratos
(e só retratos)
Trato mal feito entre nós dois
Os dias que te senti
Sentir na boca e saborear
Sabor febril do teu medo de amante
Amante. Distante
Ditante da minha poesia.

9 comentários:

Anônimo disse...

Elka, que poema forte, bonito, seco. O Sêneca dizia que "não se pode perder muito de um líquido que cai gota a gota". Tanto mais cruel esse vidro de acetona que seca, evapora, some, vai. A sensação táctil da secura que a ausência causa em transformar, afinal, ela, em palavras, e na sua poesia por ela ditada... Sobeja, então a palavra escrita, sobeja a poesia. Sem esperança?

p.s. - tenho de confessar que não compreendi bem, talvez, a excerto "(...)Inversa aos teus retratos(...)". O eu-lírico está inverso? Inverso como virado ao contrário, de costas?

muito bom, de qualquer maneira.
beijo

Dani Pepper disse...

Oi Elka,

Ando passeando por aqui, sempre de madrugada, quase antes dos olhos fecharem teimosos... Ainda há tanto por fazer nessa dissertação... rsrs.
Venho aqui e passeio pelas suas poesias, me demoro mais em algumas, até já tenho minhas preferidas.
Gosto mesmo das suas palavras, juntinhas mostrando alguns sentimentos, embaralhadas querendo esconder outros.
A de hoje, (porque se não dormi, ainda é quarta... rs), me assombrou. Quantas vezes senti essa secura das palavras e nunca a reconheci no vidro de acetona aberto, ou derramado em cima da minha escrivaninha? Perfeita essa poesia!
A vida me ensinou a fechar os vidros de acetona e a combater a secura das palavras, pois mesmo o silêncio deixa marcas, assim como aquelas que nunca sumiram da minha pobre escrivaninha...

Esse blog tem sido meu recreio, um brinde no meu final de noite.

Obrigada por partilhar sua arte.
Beijos.

Dani.

Elka Waideman disse...

Ju, obrigada pelo elogio.
há esperança sim! mas também há momentos de secura... sabe como é?!
isso mesmo, inversa, no outro sentido, "...do avesso do sentido do seu endereço..." rsrs
beijos!

Elka Waideman disse...

Dani, é uma delícia te ver por aqui, ter leitores novos e ainda mais quando eles aparecem com tamanhos sentimentos. São assim suas palavras, cheias deles!
É só a boca seca... mas não o amor, nunca! rsrs
Tenho escrito menos e esse poema é um de mês atrás mais ou menos e são palavras assim que nos incentivam ao invés de só divagar, escrever.
Adorei!
Volte e comente, mesmo nas passadas!
Beijos

Anônimo disse...

Anônimo diz:

"Amante. Distante"

bjo

Anônimo disse...

sequei.

Anônimo disse...

Uau, Elkinha... Muito bom. Meu zóinho ficou brilhando e nadando. Que orgulho de você!
beijoca

Tatiana Machado disse...

Todos disseram, mas não custa reafirmar: a leitura desse poema faz secar a boca de quem lê. Muito bonito.
Beijinho, com muita saudade.

Elka Waideman disse...

Tai, estava seca mesmo rsr
Parece-me que a única que umideceu foi minha mãe, e ainda assim os olhos, não a boca.
Também tenho saudades...
Beijos